quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ódio?


Ódio por ele? Não... Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto,
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado,
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo d´outra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinita,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não... não vale a pena.

Florbela Espanca

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